Fórum vê com ressalvas expansão da cana no Pontal

Rubens Germano disserta sobre o problema enfrentado pelos migrantes

Bispo fala sobre o agronegócio, terras devolutas e a reforma agrária no Pontal

Nos últimos três dias a expansão do plantio de cana de açúcar na região do Pontal do Paranapanema foi amplamente debatida no “Fórum Regional sobre a expansão da Monocultura da Cana”, ocorrido na cidade de Presidente Prudente, quando diversas autoridades provenientes de universidades, movimentos sindicais e sociais, judiciário, além do governo, discorreram sobre a atual conjuntura e as tendências que a monocultura está trazendo para a região.

Temas como “A expansão do agronegócio frente à perspectiva de fortalecimento do mercado de commodities a nível internacional, nacional e regional”; “Conseqüências da monocultura da cana-de-açúcar para o meio ambiente e saúde humana”; “Questão Fundiária: Agronegócio, terras devolutas e a reforma agrária no Pontal”; “Migração e Precarização do trabalho na monocultura da cana-de-açúcar”; e ainda “Projeto de Desenvolvimento Sustentável e Agricultura Familiar para o Pontal do Paranapanema”, nortearam as discussões.

A grande maioria dos palestrantes mostraram-se receosos quanto ao processo de expansão desenfreada que a cana vem tendo na região do Pontal. A crescente proliferação de usinas de beneficiamento da cana também foi observada com certa preocupação, não apenas no impacto ambiental que causam, mas também no social e econômico. Exploração da mão de obra e todas as mazelas que estão por traz das indústrias sucro-alcooleiras também foram discutidos.

“A cana, o etanol, gera muita riqueza, mas apenas para os usineiros. A riqueza é conseguida porque o processo de produção inclui mão de obra barata, sendo esse ponto nossa preocupação e frente de luta. No processo de plantio e colheita é explorada a mão de obra do trabalhador rural que em muitas usinas são tratados como animais por seus empregadores, os quais não lhes dão condições dignas de trabalho, segurança e remuneração”, alerta Aparecido Bispo, secretário-geral da Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp/CUT) e um dos palestrantes do evento.

Para Rubens Germano, membro da direção da Feraesp, que compôs a mesa de debates no terceiro dia do Fórum, o processo de monopolização de cultura no Pontal deve ser visto com responsabilidade pelas autoridades e acredita que a implantação de políticas públicas sérias por parte de todas as esferas de governo, poderá minimizar o impacto causado. “Limitação de áreas de plantio em cada município pode ser uma saída para que sobre espaço ao cultivo de outras lavouras, destinadas à agricultura familiar, por exemplo”, comenta. “São esses pequenos produtores, da agricultura familiar, que irão gerar o real desenvolvimento e renda, fazendo o dinheiro da produção circular nas cidades, fomentando assim a economia. O dinheiro dos usineiros é investido em bolsas de valores e em outros empreendimentos muitas vezes a milhares de quilômetros do Pontal”, ressalta.

Para Germano, o Fórum deve ter suas deliberações acatadas e colocadas em prática para que se respeite os desejos da sociedade expressados no evento. “Nesses três dias focou-se o mesmo assunto sobre diferentes ângulos. Debates de qualidade resultaram em uma boa bagagem de conhecimento. Há muito subsídio para compreendermos o que a cana já provocou e virá a provocar no Pontal”, diz e segue: “Basta agora toda a sociedade, principalmente os agentes políticos da região, onde citamos aqui os prefeitos e vereadores, que não se deixem iludir com a entrada de usinas apenas para que se aumente a arrecadação de seus municípios e que não se deixem contaminar com esta maré de otimismo que já vimos ocorrer num passado não muito distante, com o Pro-Alcool, nos anos 70”, completa.

Ao final do Fórum, a organização pretende publicar uma “Carta Aberta”, a ser distribuída para todos os seguimentos da sociedade, bem como a políticos e deputados, tanto estaduais quanto federais. Números não oficiais dão conta de que pelo menos 450 pessoas tenham participado das atividades do Fórum durante sua realização.

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