A reportagem procurou a União dos Produtores de Bioenergia (Udop) para comentar a situação, mas foi informada que a direção não se posicionaria no dia de ontem.
O diretor regional da Feraesp, Rubens Germano, afirma que o aumento da quantidade de toneladas cortadas ao dia está relacionado à elevação da cobrança por produtividade. “Hoje, por exemplo, os cortadores que vêm de regiões do nordeste para serem contratados, devem ser homens com idade até 30 anos”, diz. Segundo ele, é exigido que esse trabalhador corte até 16 toneladas por dia em muitos casos. “Esta quantidade está fora do normal”, afirma.
Germano afirma que o excesso e o vínculo exacerbados com a produção causam inúmeros danos ao trabalhador. “Na época da escravidão no Brasil, o trabalhador rural cortava cerca de quatro toneladas por dia”, afirma. Ele explica que a cobrança por produção força o trabalhador a ir além da sua carga horária. “Os cortadores acabam não fazendo as pausas necessárias para almoço, lanche e café, extremamente importantes para o desempenho de sua função”, afirma. Germano conta que o grande conflito é que as usinas respeitem os horários de descanso e que este seja remunerado.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Prudente, João Altino Cremonezzi, o que causou o aumento da produção é a adaptabilidade dos trabalhadores. Ele explica que o sindicato e os órgãos públicos como Ministério Público do Trabalho (MPT) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) lutam contra os danos futuros causados pelo esforço físico atuais. “Imagina daqui 20 a 30 anos como vai estar a situação deste trabalhador que corta cerca de oito toneladas por dia”, questiona.
Cremonezzi afirma que a situação do trabalhador é preocupante, já que ele desempenha 11.400 facadas por dia no corte da cana. “Dependendo da cana e da largura do plantio, o esforço é ainda maior”, diz. Mesmo assim, ele não acredita que o problema do cortador seja a expansão da cana. “A cana não impede a agricultura família, é bom para o município, já que aumenta o ICMS, para a União, aumento das exportações, e para os trabalhadores com a proliferação do emprego”, diz. Cremonezzi lembra que se o salário mínimo fosse maior, os trabalhadores do corte não estariam expostos a Lesões por Esforço Repetitivo ou Distúrbios Osteomoleculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT), causados pela cobrança da produção. “Essa é uma doença que vai se agravando e reduzindo a capacidade laborativa do cortador”, diz.
Segundo Cremonezzi, a relação que o setor canavieiro tem com a produtividade é impulsionada pela falta de políticas públicas no setor agrícola. “O salário mínimo é pouco e, por isso, muitos setores são levados a cobrarem por produção, no caso dos cortadores e ainda dos vendedores do comércio”, diz. Na sua opinião, a saída é a revisão do salário mínimo e não o impedimento do avanço da cana. “Na Argentina, por exemplo, o salário mínimo é R$ 870,00. Se este fosse o caso do Brasil, os trabalhadores rurais ganhariam um salário digno e não precisariam trabalhar em função da produção”, afirma.